Falar em disfunções sexuais é falar, também, do que é suposto ser uma função ou uma resposta sexual.
E aí entramos no domínios das várias dimensões que podemos associar ao que supostamente se relaciona com a sexualidade. Falamos de componentes como o desejo, a excitação, o orgasmo. Mas, também, a motivação e o envolvimento. Alguns são os modelos que tentam compreender a resposta sexual. Uns de uma forma mais linear e por "fases". Outros de uma forma mais circular e mais "fluida". Todos são importantes para percebermos melhor o que é (ou pode ser) a resposta sexual. Mas isso fica para outros posts. Uma disfunção sexual surge quando há algo que não está a funcionar tão bem na sexualidade como o desejado pela pessoa. O diagnóstico surge quando há algum tipo de validação por um/a clínico (psi ou ginecologista por exemplo). Vou, depois, dedicar vários posts a cada disfunção sexual, mas, por agora queria, apenas elencar cada uma delas tal como são apresentadas pelo DSM-5. Por vezes, ajuda, sabermos o que existe enquanto diagnóstico de modo a perceber se o que sentimos como problema tem reflexo nesses mesmos diagnósticos. Dizer que é muito interessante que há disfunções sexuais, como o vaginismo, por exemplo, que não comprometem, por si só, a resposta sexual mais "clássica" (dos modelos de fases lembram-se?). Num caso de vaginismo não há penetração vaginal, mas pode haver desejo, excitação e orgasmo. Não há é penetração. E, nunca é demais repetir, a penetração não é necessariamente essencial para uma resposta e função sexual satisfatória e saudável. Mas, vamos lá às disfunções sexuais.
Nos próximos post, iremos abordar, então, cada uma destas disfunções. E continuar a falar das funções e das respostas sexuais! Precisar de outras pessoas é normal, expectável e saudável. Quando essa necessidade se torna "demasiado" para a/o próprio e para a/o outro já entramos no domínio da diminuição da saúde e do bem estar.
Há imensas teorizações que nos explicam porque podemos ser "needy". As teorias explicam porque estamos constantemente à procura de aprovação, de validação, de provas e evidências que o/a outro/a está realmente lá para nós e que irá continuar lá para nós não indo a lado nenhum. Muito frequentemente é esta procura, e esta intensidade na procura, que causa mal estar na própria pessoa, na/o outra/a e na relação. Esta necessidade pode ser particularmente disfuncional em relações de intimidade, tanto para o/a próprio/a como para o/a outro/a. Uma espécie de obsessão com a relação que resulta em comportamento compulsivo de procura de atenção... O que fazer então? Há alguns modos de tentar ser menos "needy" nas relações:
O "ser needy" surge como medida de proteção. Se pedir e exigir muito, se estiver suficientemente vigilante, vou fazer com que a relação "corra bem" e com que a pessoa que está ao meu lado me ame e, tão importante como isso, me mostra o quanto me ama. Ao "ser needy" estou a tentar procurar pistas que "tudo está bem". O grande problema é que ao "ser needy" estou também a contribuir para que a relação não funcione e para que efetivamente não esteja "tudo bem". Uma das grandes resistências das pessoas que são "needy" em relação é a crença que se não fizerem desse modo, se não exigirem, se não procurarem atenção, se não estiverem vigilantes, não têm a certeza que outra pessoa responda às necessidades delas. A dificuldade é que ao serem "neddy" também não vão ter a certeza disso. E, portanto, há que procurar novas soluções. Ler pode ajudar! Amig@s podem ajudar! A terapia pode ajudar! Começar por este "não" que me desconcerta...
Dizer não-monogâmico assume uma oposição a algo. Neste caso uma oposição à monogamia. E definir opondo-se não é igual a definir afirmando-se. Esta oposição pode indicar, portanto, que o modo "default" das relações é o monogâmico. E que o monogâmico apresenta-se como "superior" ao que é... não-monogâmico. Dito isto, o termo "relações não-monogâmicas" tem sido, até ao momento o mais usado para definir como termo "guarda-chuva" incluindo vários modos de relações que não assentam na monogamia. Há autores que defendem, até, que não há verdadeiras relações mononogâmicas, ou seja, com 100% de exclusividade emocional e sexual de cada um dos/as parceiros/as. Há imensos tipos de relações que não assentam na monogamia, afirmando-se de outros modos. Esta não pretende ser uma lista exaustiva, mas sim indicativa de algum desses modos de relacionamento. Baseada no trabalho da Meg-John Barker:
Quando falamos destas relações não monogâmicas, falamos de relações consensuais e éticas em que a não monogamia surge como desejada e possibilitada pela própria relação. As relações não monogámicas também se apresentam como não consensuais e não éticas quando surgem no contexto de uma relação presumivelmente monogâmica. O caso mais comum é o da infidelidade na qual o "caso" com uma terceira pessoa exterior ao casal é mantido oculto e em segredo. Deixo aqui referências a que volto sempre para pensar as relações no geral, e as não monogâmicas consensuais e éticas em particular. Para uma "não monogamia" afirmativa: More than two, do Franklin Veaux e da Eve Rickert Polysecure: Attachment, Trauma and Consensual Nonmonogamy, da Jessica Fern Sexuality and gender for mental health professionals, da Christina Richards e da Meg Barker The Anxious Person’s Guide to Non-Monogamy, da Lola Phoenix Rewriting the rules, da Meg Barker The ethical slut, da Janet Hardy Understanding non monogamies, da Meg Barker e do Darren Langbridge O foco sensorial é uma técnica muito utilizada em terapia sexual quando a queixa ou o problema se relaciona com a ansiedade provocada pelo desempenho sexual. Baseia-se no trabalho de Masters & Johnson.
As queixas mais comuns são as dificuldades relacionadas com o desejo ou com problemas de erecção. O foco sensorial é uma técnica comportamentalista (visa mudar o comportamento, portanto) que assenta no princípio da aproximação progressiva ao que é mais temido. E o que é mais temido (e o que causa ansiedade) é usualmente a penetração vaginal pelo pénis (falando em relações heterossexuais). Ora, dado isto, também é essencial acompanhar a técnica do foco sensorial com a desconstrução da centralização da penetração vaginal pelo pénis. Se, por um lado, o foco sensorial permite aos casais que o desejam ter penetração vaginal pelo pénis, por outro corre-se o risco de reforçar a crença de que "a penetração é o objetivo" desvalorizando-se todo o repertório genital e não genital que não implique penetração. O foco sensorial realiza-se usualmente em casal, sendo estruturado em consulta e em casa. Nas consultas discute-se as indicações dos exercícios e como vão sendo experienciados, em casa faz-se os exercícios propriamente ditos. É composto por quatro fases: 1. É proposto aos casais as trocas de carícias não genitais (os genitais são uma "área proibida", se quiserem) que têm como objetivo o conforto, o prazer, a intimidade. Trata-se de fazer o que faz o/a outro/ sentir bem e o que me faz sentir bem. 2. Em seguida, é dada "autorização" aos casais, se assim o desejarem, para continuar a fase 1 envolvendo as carícias genitais, sendo "proibida" a penetração. 3. Esta é a fase em que o coito poderá acontecer, constituindo-se como uma extensão das duas primeiras fases continuando-se o trabalho de exploração do prazer e do erotismo. 4. Finalmente, é "permitido" aos casais que possam ter orgasmos com o coito. Novamente, contextualizando-se a exploração do corpo e das sensações. Há muitas variações do trabalho do foco sensorial. Tantas quantas os/as terapeutas e os casais. Diria, também, que o mais importante nesta técnica é conseguir perceber como podemos diminuir a ansiedade do desempenho (que, na maior parte das vezes, continua ainda a constituir-se em torno da penetração vaginal pelo pénis) e como essa diminuição permite experienciar o corpo de um modo mais completo e mais erótico. Indo além da penetração. Com foco no processo, no toque, nas sensações e no corpo. Mais do que permitir a penetração, o foco sensorial pode ser usado para diminuir a ansiedade em relação à sexualidade e permitir uma vida sexual mais rica. Lésbica - mulher que sente atração por mulheres
Gay - homem que sente atração por homens Bissexual - pessoa que sente atração por homes e mulheres. Também se pode falar de Pansexual quando a atração é por todos os géneros (independentemente de serem identificados como homens ou mulheres) Trans (transexual ou transgénero) - aqui já entramos no domínio da identidade de género e não da orientação sexual. O conceito trans contrasta com o conceito cis. Uma pessoa trans é uma pessoa cuja identidade de género não coincide com o sexo que lhe foi atribuído à nascença. Queer - a identidade queer pretende ir além do binarismo homem/mulher, homo/hetero,... É a identidade mais fluida por excelência. A teoria queer postula a construção social (e não biológica) das identidades Intersexo - falamos da sexualidade biológica (cromossomas, caracteres sexuais) que não se encaixa no binarismo homem/mulher Assexual - pessoas que não sentem atração por outras pessoas, independentemente do género (também pode significar aliado/a, havendo alguma controvérsia em relação ao que pode representar este "A") + diversidade de todas as identidades de género e orientações sexuais que possam existir Um conjunto de siglas para representar uma comunidade e um movimento social, político e cívico que defende a inclusão da diferença em relação à identidade de género e à orientação sexual. Enquanto violência de género.
Sobre mulheres. Não vou falar aqui da violência sexual que usualmente mais se fala, ou seja, da violação. Queria falar de algo bem mais subtil e que muitas vezes é recebido com alguma dúvida se se poderá constituir como violência (de género) ou não. Para mim parece-me evidente que o é. O exame ginecológico quando mal feito. Ginecologistas que aprendem usualmente a parte técnica, a examinar o cérvix, útero e ovários e que muitas vezes se esquecem que, para isso, têm que penetrar o canal vaginal, quer seja com sondas, espéculos ou dedos. E fazem-no sem dizer que o vão fazer. Fazem-no sem garantir à mulher que interrompem o exame a qualquer momento se esta pedir. Assisti a um webinar recentemente onde se abordava precisamente este tema e fiquei perplexa ao constatar o que uma investigadora dizia: a primeira coisa que usualmente o/a ginecologista faz após a mulher se deitar e colocar as pernas naqueles apoios é encostar (no melhor dos cenários, para não dizer introduzir) o espéculo ao canal vaginal. Sem perguntar, sem informar o que vai fazer. Tenho que fazer a ressalva que há excelentes profissionais para os quais tudo estou a dizer não se aplica. E obrigada por existirem. Mas as queixas sobre o exame ginecológico não podem ser ignoradas. E algo de muito errado se passa em muitos exames ginecológicos para haver tantas queixas e insatisfação por parte das mulheres. Desde a desvalorização das queixas (a dor, por exemplo) até, como já referi, à falta de consentimento para serem examinadas. Fala-se alguma coisa (embora ainda muito residualmente) de violência obstétrica. No momento do parto, portanto. Mas o exame ginecológico parece ser ainda muito pouco abordado. A literatura que conheço que vai nesse sentido, parece denunciar uma atitude muito paternalista de ginecologistas perante a expressão de desconforto da mulher durante o exame ginecológico respondendo com um muito simples "relaxe", "tem que relaxar". Algumas são as indicações que parecem fazer aumentar o conforto e a satisfação das mulheres aquando do exame ginecológicas. E são todas muito simples de implementar por ginecologistas: - informar sobre o procedimento - esclarecer que basta a mulher pedir para parar que interrompem o exame - ouvir e valorizar as queixas das mulheres - oferecer a possibilidade de ter companhia durante o exame - oferecer um lençol para a mulher se tapar durante o exame De não esquecer que muitas mulheres aguentam o desconforto em silêncio, não falam com o/a seu/sua médico/a ginecologista. Por achar que não vão ser ouvidas, pelo desequilíbrio de poder (afinal o/a ginecologista é que sabe, é ele/ela que é o/a especialista) ou simplesmente por acharem que o exame é mesmo assim, doloroso e desconfortável. A verdade é que não é suposto doer. Pode-se sentir alguma pressão, mas não dor. Falem com o/a vosso/a ginecologista. Falem com outras mulheres. Falem! E exijam ser tratadas com respeito e dignidade... Para que todas possamos ser tratadas com respeito e dignidade. Podem ver o e ouvir uma breve apresentação sobre o tema por Mijal Luria aqui. Todas as apresentações do webinar são muito interessantes, mas se quiserem apenas ouvir e ver a Mijal é entre os 44:30 e os 55:30 Descobri o Dan Savage , quando ouvia a Luana Cunha Ferreira.
Acho que traz um contributo fantástico para pensar as relações de conjugalidade de longo termo. Muito provocatório. Muito pouco consensual. Resumindo o argumento, que não pretende de todo ser prescritivo (no sentido de "tem que ser assim" para todos/as) o que o Dan diz é que em vez de pensarmos as relações de um modo monogámico, podemos pensar de um modo monogamish (talvez, em português, se possa dizer "mais ou menos monogámico" ou "tendencialment monogámico"). Deste modo, as relações seriam mais saudáveis e mais funcionais. E, acima de tudo, mais felizes. Aproxima-se do que usualmente se denomina de relações abertas em que há a "permissão" (eu permito-me e o outro também me permite, no sentido de não constituir uma ofensa ou uma traição) estar (também, e se calhar principalmente, sexualmente) com outras pessoas além do/a parceiro/a com o qual eu tenho a minha relação monogamish. Deste modo, diz o Dan, o casal terá maior bem-estar por não estar a excluir e a negar-se todas as pessoas pelas quais, inevitavelmente, irá sentir-se atraído ao longo da vida. De um modo claro, isto obriga-nos a desconstruir crenças e mitos associadas ao "amor", ao "casal", às "relações de longo prazo" como:
Ora, as coisas não são necessariamente assim e as relações, os casais, a sexualidade são demasiado complexos para serem pensada em termos tão simples. Isto não é um argumento contra a monogamia, mas sim um argumento que reforça o facto de para quem a monogamia (no sentido mais restrito) não funciona, haver outras alternativas. Que não excluem, necessariamente, uma ligação exclusiva a uma pessoa, um/a parceiro/a para a vida toda. Diria, também, que podemos pensar no monogamish em vários níveis. O nível "menos avançado", se quisermos, poderia ser o/a parceiro permitir-se e permitir ao/à outro/a entrar num role play erótico em que se imagina que quem está ali sexualmente não é quem realmente está (o/a parceiro/a da vida), mas sim a outra pessoa pela qual se sente atraído. Se me sinto atraída por outra pessoa, o/a meu/minha parceiro/a poderá permitir-me"fazer de conta" que é essa pessoa que está lá quando estamos sexualmente juntos. O jogo erótico funcionaria bem para os dois. Mas ouçam o Dan Savage. É desconcertante. Faz-nos pensar nas relações e nas "infidelidades". E em que todas as relações devem ser pensadas como únicas. E o que resulta para alguns/algumas não resulta necessariamente para todos/as. Que ideia maravilhosa. O clit test. Podem saber mais aqui.
Muito resumidamente é um movimento que pretende promover uma visão mais realista do orgasmo feminino em filmes, séries, livros, etc... Uma das queixas mais frequentes das mulheres em consulta no que se refere ao orgasmo é a angústia e a frustração da incapacidade de obterem o chamado 'orgasmo vaginal'. Ou seja, um orgasmo obtido através da penetração vaginal e, preferencialmente, ao mesmo tempo do orgasmo do parceiro (se estivermos a falar numa relação heterossexual, portanto). Ora, a verdade é que para a maior parte das mulheres um orgasmo vaginal é algo que, simplesmente, não existe porque não pode existir. O orgasmo decorre sempre de uma estimulação do clitóris. Mesmo que indirecta. E sim, até hoje, não se provou a existência do Ponto G. A desmistificação do mito do orgasmo vaginal pode-se fazer em consulta com muita psicoeducação sobre o que sabemos do orgasmo. Mas a maior parte das mensagens que obtemos são contrárias. Basta lembrar a maior parte das cenas de sexo que envolvem orgasmos aquando da penetração vaginal. Normalmente, muito rápidos e muito audíveis. O facto de muitas pessoas acreditarem que o orgasmo pode ocorrer pela estimulação da vagina faz criar muitos mal-entendidos e, até, a crença de que algo se passa de problemático e de disfuncional na sua sexualidade. Crença essa que pode ter mesmo impacto na sexualidade. Quanto mais me preocupo que posso ter algum problema - por não poder obter ou oferecer um orgasmo vaginal - menos me centro no erotismo e no prazer. E aí é mesmo provável que ocorra uma disfunção ou um problema sexual. No site do clit test podem ver as séries/filmes/etc que passam no teste e que falham no teste. É um excelente exercício que promete contribuir para desmistificar o orgasmo e valorizar o papel do clitóris. Em relação ao clitóris, convém perceber que se ele parece ser muito pequenino, uma espécie de ervilha ou botão, na realidade ele é bastante extenso (+/-10com!) sendo composto por uma glande, por um corpo, por ramos (as duas 'pernas' do clitóris) e os bulbos vestibulares. Se olharmos apenas para o clitóris, que, novamente não é todo visível externamente, faz lembrar bastante outro órgão, esse sim, muito externalizado, o pénis. Quando usualmente se pensa em semelhanças entre homem e mulher, emparelha-se o pénis com a vagina quando, na verdade, dever-se-ia emparelhar o pénis com o clitóris. Isto se estivermos a pensar num registo binário, obviamente. Muito devido à centralidade do coito e da penetração vaginal na sexualidade. Mas, isso fica para outro post! Entretanto, se ainda não o fizeram tratem bem o vosso corpo e conheçam-no! Não fiquem à espera que ele faça coisas que simplesmente não pode fazer! E viveram felizes para sempre!
Contos infantis. Tão adorados e tão importantes. Uma forma de socialização evidente. Como tudo, aliás! Não sou, devo dizê-lo, contra os contos infantis tradicionais. Mesmo esses os da princesas cor de rosa e os dos príncipes que salvam tudo e que beijam a princesa sem o seu consentimento explícito. Até servem bastante para promover o pensamento crítico das crianças se for uma leitura acompanhada. Mas, acima de tudo, sou muito a favor da diversidade. E, ainda hoje, os contos (e os jogos) são muito heteronormativos e baseados na família nuclear mãe-pai-filhos. O que é muito redutor. Encontrar livros para crianças que retratam famílias diferentes é sempre um desafio, mas vão havendo alguns exemplos maravilhosos. Deixo aqui alguns. Uns mais conservadores e outros mais ousados. Os temas vão desde as famílias monoparentais até às temáticas LGBTQIA+, passando pelas temáticas trans e pela identidade de género. No fundo, trata-se de abordar a DIVERSIDADE Para que, crianças e adultos, aprendam a ver o mundo por uma perspetiva bem mais colorida e interessante do que a princesa cor de rosa e o príncipe que salva tudo, o casamento, os filhos e a vida feliz para sempre... Menino ou Menina O Leão de Neve O Livro do Pedro (Maria dos 7 aos 8) Teodorico e as mães cegonhas Primeiro cresci no coração Todos fazemos tudo Monstro rosa Palavras bonitas sobre contas O Jaime é uma sereia Cá em casa somos... Álbum de famílias A vila das cores Luanda, Lua Os meus dois pais Por quem me apaixonarei? Três com tango Boas leituras! É muito usual ouvir-se que os problemas de comunicação são comuns em casais que procuram ajuda. Mas, de que falamos, quando abordamos os 'problemas de comunicação'? E como se aprende a comunicar melhor? E é mesmo assim? Melhorando a comunicação tudo se resolve?
Uma obra incontornável quando falamos de comunicação é a 'Pragmatics of Human Communication' de Paul Watzlawick, Janet Bavelas e Don Jackson. Foi publicada pela primeira vez em 1967, mas continua a ser uma ferramenta poderosíssima para perceber: - o que é a comunicação - quais os problemas e as patologias da comunicação - como se pode intervir para melhorar a comunicação Os autores falam-nos de 5 axiomas da comunicação: 1. É impossível não comunicar (mesmo quando estamos em silêncio e não dizemos nada, estamos a comunicar que não queremos falar, que queremos estar sozinhos) 2. A comunicação tem sempre dois níveis: conteúdo e relação (o conteúdo refere-se ao que dizemos, ou à informação; a relação diz respeito ao compromisso, este último definindo 'como eu me vejo', 'como eu te vejo' e 'como eu vejo o modo como tu me vês'; o nível da relação engloba uma comunicação sobre a comunicação: a METACOMUNICAÇÃO ) 3. A pontuação como organizadora da comunicação (estamos sempre a pontuar, ou seja a 'dar ordens', é como se fosse um jogo de ténis com várias jogadas, ora jogo eu, ora jogas tu...) 4. A comunicação é verbal (digital) e não-verbal (analógica) (e é o não-verbal que costuma ser mais 'autêntico', mais do que dizer 'gosto muito de ti' é o comportamento que nos dá a sensação que realmente aquela pessoa 'gosta muito de ti') 5. A comunicação informa sobre o tipo de relação (costumamos falar de dois tipos de relação: complementar - com relações assimétricas de poder como a relação parental - e simétrica - com relações simétricas em que o poder está igualmente distribuído, falaríamos por exemplo da relação conjugal). Comunicamos de diferentes formas consoante a relação em que nos encontramos. Podemos identificar várias patologias ou problemas na comunicação. As mais comuns são a ESCALADA, a RIGIDEZ e o DOUBLE BINDING (ou comunicação paradoxal). Muitas vezes é difícil, para não dizer impossível, serem as próprias pessoas a identificar esses problemas. E mesmo quando os identificam, não sabem como os ultrapassar. Fazem demasiado parte do sistema que pretendem mudar. Nesses contextos a terapia é uma ótima alternativa. Desde que a/o terapeuta não se deixe sugar pelo próprio sistema :) Escalada: problema que surge nas relações simétricas muitas vezes associada ao achar que o problema está no outro, sendo este que tem que mudar. Um exemplo de escalada é a conversa que começa por ser aparentemente simples, até sobre coisas mundanas, e que rapidamente se transforma numa enorme discussão sobre 'quem tem razão', sobre 'quem compreende', sobre, no fundo, quem tem poder. Rigidez: problema que surge nas relações complementares, marcado pela pouca flexibilidade no comportamento com a outra pessoa. Pode-se pensar no caso de uma pessoa que trata a outra de um modo controlador, restringindo as liberdades individuais, assumindo que isso é sinal de cuidado e de amor. Double Binding: problema que surge nas relações complementares, quando há mensagens ambíguas e contraditórias. Quando a Raquel diz à Joana que gostaria que ela fosse mais espontânea na sua sexualidade. Há sempre um paradoxo na comunicação e faça o que se fizer faz-se mal. Quer a Joana seja espontânea ou não, vai estar sempre a responder de um modo insatisfatório à Raquel. Se for mais espontânea, não o está a ser porque está a cumprir a indicação da Raquel. Se não for mais espontânea, não está a responder ao pedido do Raquel. Novamente, faça-se o que se fizer, faz-se mal. Esta é capaz de ser a patologia mais difícil de ser reconhecida por quem está envolvido na comunicação e é necessário algum trabalho terapêutico para se conseguir identificar e ultrapassar este padrão. A METACOMUNICAÇÃO apropriada e ajustada é uma condição sine qua non da comunicação com sucesso. A METACOMUNICAÇÃO encontra-se intimamente relacionada com os grandes problemas de consciência do self e dxs outrxs. Lembro-me de ter ouvido uns terapeutas a referirem, com alguma graça, que se os casais com problemas tivessem problemas de comunicação teriam-no também com outras pessoas fora do sistema conjugal. Na altura até fez algum sentido para mim, mas porque ainda não percebia bem os aspetos relacionais da comunicação e, principalmente, de poder. A boa comunicação é muito mais do que falar de um modo claro com alguém. É informar e relacionar-se, é organizar pontuando as várias mensagens para que o jogo comunicativo continue funcional, é equilibrar o verbal com o não-verbal, é adaptar o modo como comunicamos à relação que temos ou queremos ter. Metacomuniquemos, portanto! |
Sofia B. SousaPsicóloga Clínica Arquivos
May 2023
Este blog tem objetivos educativos e informativos.
E não deve ser considerado como forma de terapia e acompanhamento psicológico. |