Descobri o Dan Savage , quando ouvia a Luana Cunha Ferreira.
Acho que traz um contributo fantástico para pensar as relações de conjugalidade de longo termo. Muito provocatório. Muito pouco consensual. Resumindo o argumento, que não pretende de todo ser prescritivo (no sentido de "tem que ser assim" para todos/as) o que o Dan diz é que em vez de pensarmos as relações de um modo monogámico, podemos pensar de um modo monogamish (talvez, em português, se possa dizer "mais ou menos monogámico" ou "tendencialment monogámico"). Deste modo, as relações seriam mais saudáveis e mais funcionais. E, acima de tudo, mais felizes. Aproxima-se do que usualmente se denomina de relações abertas em que há a "permissão" (eu permito-me e o outro também me permite, no sentido de não constituir uma ofensa ou uma traição) estar (também, e se calhar principalmente, sexualmente) com outras pessoas além do/a parceiro/a com o qual eu tenho a minha relação monogamish. Deste modo, diz o Dan, o casal terá maior bem-estar por não estar a excluir e a negar-se todas as pessoas pelas quais, inevitavelmente, irá sentir-se atraído ao longo da vida. De um modo claro, isto obriga-nos a desconstruir crenças e mitos associadas ao "amor", ao "casal", às "relações de longo prazo" como:
Ora, as coisas não são necessariamente assim e as relações, os casais, a sexualidade são demasiado complexos para serem pensada em termos tão simples. Isto não é um argumento contra a monogamia, mas sim um argumento que reforça o facto de para quem a monogamia (no sentido mais restrito) não funciona, haver outras alternativas. Que não excluem, necessariamente, uma ligação exclusiva a uma pessoa, um/a parceiro/a para a vida toda. Diria, também, que podemos pensar no monogamish em vários níveis. O nível "menos avançado", se quisermos, poderia ser o/a parceiro permitir-se e permitir ao/à outro/a entrar num role play erótico em que se imagina que quem está ali sexualmente não é quem realmente está (o/a parceiro/a da vida), mas sim a outra pessoa pela qual se sente atraído. Se me sinto atraída por outra pessoa, o/a meu/minha parceiro/a poderá permitir-me"fazer de conta" que é essa pessoa que está lá quando estamos sexualmente juntos. O jogo erótico funcionaria bem para os dois. Mas ouçam o Dan Savage. É desconcertante. Faz-nos pensar nas relações e nas "infidelidades". E em que todas as relações devem ser pensadas como únicas. E o que resulta para alguns/algumas não resulta necessariamente para todos/as. Comments are closed.
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Sofia B. SousaPsicóloga Clínica Arquivos
May 2023
Este blog tem objetivos educativos e informativos.
E não deve ser considerado como forma de terapia e acompanhamento psicológico. |