Enquanto violência de género.
Sobre mulheres. Não vou falar aqui da violência sexual que usualmente mais se fala, ou seja, da violação. Queria falar de algo bem mais subtil e que muitas vezes é recebido com alguma dúvida se se poderá constituir como violência (de género) ou não. Para mim parece-me evidente que o é. O exame ginecológico quando mal feito. Ginecologistas que aprendem usualmente a parte técnica, a examinar o cérvix, útero e ovários e que muitas vezes se esquecem que, para isso, têm que penetrar o canal vaginal, quer seja com sondas, espéculos ou dedos. E fazem-no sem dizer que o vão fazer. Fazem-no sem garantir à mulher que interrompem o exame a qualquer momento se esta pedir. Assisti a um webinar recentemente onde se abordava precisamente este tema e fiquei perplexa ao constatar o que uma investigadora dizia: a primeira coisa que usualmente o/a ginecologista faz após a mulher se deitar e colocar as pernas naqueles apoios é encostar (no melhor dos cenários, para não dizer introduzir) o espéculo ao canal vaginal. Sem perguntar, sem informar o que vai fazer. Tenho que fazer a ressalva que há excelentes profissionais para os quais tudo estou a dizer não se aplica. E obrigada por existirem. Mas as queixas sobre o exame ginecológico não podem ser ignoradas. E algo de muito errado se passa em muitos exames ginecológicos para haver tantas queixas e insatisfação por parte das mulheres. Desde a desvalorização das queixas (a dor, por exemplo) até, como já referi, à falta de consentimento para serem examinadas. Fala-se alguma coisa (embora ainda muito residualmente) de violência obstétrica. No momento do parto, portanto. Mas o exame ginecológico parece ser ainda muito pouco abordado. A literatura que conheço que vai nesse sentido, parece denunciar uma atitude muito paternalista de ginecologistas perante a expressão de desconforto da mulher durante o exame ginecológico respondendo com um muito simples "relaxe", "tem que relaxar". Algumas são as indicações que parecem fazer aumentar o conforto e a satisfação das mulheres aquando do exame ginecológicas. E são todas muito simples de implementar por ginecologistas: - informar sobre o procedimento - esclarecer que basta a mulher pedir para parar que interrompem o exame - ouvir e valorizar as queixas das mulheres - oferecer a possibilidade de ter companhia durante o exame - oferecer um lençol para a mulher se tapar durante o exame De não esquecer que muitas mulheres aguentam o desconforto em silêncio, não falam com o/a seu/sua médico/a ginecologista. Por achar que não vão ser ouvidas, pelo desequilíbrio de poder (afinal o/a ginecologista é que sabe, é ele/ela que é o/a especialista) ou simplesmente por acharem que o exame é mesmo assim, doloroso e desconfortável. A verdade é que não é suposto doer. Pode-se sentir alguma pressão, mas não dor. Falem com o/a vosso/a ginecologista. Falem com outras mulheres. Falem! E exijam ser tratadas com respeito e dignidade... Para que todas possamos ser tratadas com respeito e dignidade. Podem ver o e ouvir uma breve apresentação sobre o tema por Mijal Luria aqui. Todas as apresentações do webinar são muito interessantes, mas se quiserem apenas ouvir e ver a Mijal é entre os 44:30 e os 55:30 Comments are closed.
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Sofia B. SousaPsicóloga Clínica Arquivos
May 2023
Este blog tem objetivos educativos e informativos.
E não deve ser considerado como forma de terapia e acompanhamento psicológico. |